22 de abril de 2012

Só mais uma vez

"Pára de olhar para mim.
Imploro-te! Peço-te por tudo e com todas as minhas forças. E ao mesmo tempo suplico-te que o continues a fazer. Só mais um pouco. Só mais uma vez. O teu olhar tem o poder de me desarmar completamente. E eu não sei lidar muito bem com isso. Não sei se hei-de ficar contente com esse teu poder encantado, esse teu poder de super-herói, capaz de encher a minha alma de magia, ou se hei-de ficar inquietado com a possibilidade de tu seres uma vilã, de teres descoberto o meu ponto fraco, e de agora ires usar essa tua capacidade para me matares lentamente porque te alimentas da minha dor. Sinceramente não sei muito bem o que pensar. A primeira vez que o teu olhar me encontrou foi há 3 meses atrás. Eu estava no café com os meus amigos a falar sobre o nada e quando olhei para o outro lado da sala, ali estavas tu. No teu mundo, com as tuas amigas, a falar sobre o teu nada. E de repente olhaste para mim. Eu acho que não o fizeste de propósito. Foram apenas 2 segundos, mas foi o tempo suficiente para me aprisionares para sempre. Os meus amigos continuaram a falar comigo, pelo menos acho que continuaram a falar comigo, mas eu já não consegui ouvir mais nada. Os meus sentidos estavam todos centrados em ti. E no teu olhar. Naquela noite não voltaste a fazê-lo, mas eu prometi que iria voltar aquele café todos os dias para poder voltar a sentir o efeito do teu olhar em mim. Tinha ficado viciado. Tinha ficado agarrado. E como acontece com qualquer vício, eu precisava de o satisfazer com mais uma dose. Só mais uma. Só mais uma e ficaria tudo bem. Mais um olhar e eu nunca mais precisaria de voltar a ver-te. Que ingénuo. Voltei todos os dias aquele café à mesma hora e sentei-me exactamente no mesmo sitio. E nada. Passaram 3 meses desde aquela noite mas continuas a olhar para mim de todas as vezes que eu fecho os olhos e te imagino sentada naquela mesa do outro lado do café com as tuas amigas a falar do nada. A falar de mim. Imagino-te a contares-lhes que um rapaz do lado oposto de onde estás sentada te enclausurou com o seu olhar e que agora não consegues pensar noutra coisa a não ser nas perguntas sem resposta que ele te deixou naquela noite: Como se chama? Onde vive? O que é que faz? Qual é a sua música favorita? O seu filme preferido? Qual será o seu maior sonho? O que será que o faz chorar? Como será o seu abraço? O seu ombro? O seu colo? Imagino-te em casa, deitada na tua cama fria sem conseguires adormecer e a pensares que se hoje tivesses ficado mais 5 minutos no café talvez eu tivesse aparecido e pudesses ter cruzado o teu olhar com o meu outra vez. E depois apercebo-me que todas as coisas que acabei de descrever não passam de fragmentos da minha imaginação. Sonhos impossíveis que vivi nos últimos 3 meses. Todos os dias continuo a regressar aquele café na ânsia de voltar a sentir o teu olhar. Porque preciso de o ter em mim mais uma vez. Só mais uma. Preciso de acalmar a minha sede. O meu vicio. 
Todos os dias volto a ter de fechar os olhos para poder ver-te. E não sei quanto mais tempo vou aguentar assim. Preciso que me libertes. Suplico-te. Por favor! Pára de olhar para mim!"

Paulo Almeida




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